Foi muito especial pra mim ver Benzinho ao lado da minha mãe. “É emoção de todos os lados”, ela comentou durante a cena final do longa de Gustavo Pizzi. Não falava especificamente dela, explicou, para logo depois pensar bem e afirmar que ficou muito tocada, sim, com o filme. De certa forma, mal comparando, minha mãe foi um pouco Irene e eu fui um pouco Fernando, quando eu saí de casa. Não foi para jogar handebol na Alemanha e, sim, para ser jornalista em São Paulo. Um abismo, claro. Mas a própria Rosinha me disse que, para uma mãe, não faz diferença: “é tudo longe de mim”.
Benzinho é sobre a primeira separação de mãe e filho. Sobre o orgulho de ver a cria ganhar o mundo, seguir seu caminho, mas sobre aquele desejo, lá no fundo, de que aquela pessoa que saiu de você, que você fez, esteja para sempre embaixo das suas asas. É torcer 100% a favor e 5% contra, sem que essa conta precise fechar, afinal, amor é elástico. E Benzinho também é sobre amor. Aliás, só é sobre amor. A família de Irene e Fernando se ama demais, é carinhosa demais entre si, se abraça, se beija, se acolhe o tempo todo. Pai, mãe, quatro filhos, tia, sobrinho. É tanto amor que Benzinho poderia se passar por um filme sem nuances, como se nuance passasse diretamente pelo fato de haver intrigas ou invejas entre os membros de uma família.

Vi muito da minha família em Benzinho, na maneira sincera e espontânea como filme escrito pelo próprio Pizzi e por sua ex-mulher, a protagonista do filme, Karine Teles, retrata o que é a vida, no amor com que costuram um roteiro de poucos eventos, mas muitos sentimentos, que não ganham cenas catárticas ou momentos de decisão. Eles até existem, mas são tão diluídos numa narrativa de observação, leve, mas sem deixar de se enveredar pela essência dos personagens. Muito do resultado que se vê na tela se deve a um elenco entregue aos personagens.

Minha conexão com Benzinho foi muito além de enxergar elementos comuns entre a minha história e a que vi no filme. O longa me pegou mesmo pela sinceridade, pelo retrato fiel, pelo carinho que tanto falta nas representações ficcionais que vemos hoje em dia, sobretudo no cinema brasileiro. Hoje em dia, há um entendimento de que para ser fiel à realidade é preciso passar necessariamente pelo registro da violência ou pela corrupção de afetos. Benzinho mostra que existe outro registro possível – e necessário. O registro do carinho. Dito isso, Rosinha acabou de ganhar um novo apelido.
Benzinho Benzinho, Gustavo Pizzi, 2018
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